Ao falar sobre escolas livres no Brasil, é preciso fazer referência, antes de mais nada, aos povos indígenas e quilombolas, com culturas bastante integradas à natureza, valores e costumes próprios. Ainda que não tenham institucionalizado a educação (em escolas, por exemplo), possuem outras formas de educar que são igualmente válidas, e podem servir de base para repensarmos a forma tradicional da maior parte das escolas brasileiras.
Vale lembrar também de Branca Dias , uma das primeiras educadoras feministas, que era judia e portuguesa. Perseguida pela inquisição, denunciada pela Igreja e presa por dois anos, foi se refugiar e viver em Olinda, Pernambuco, onde criou uma escola para mulheres aprenderem a ler, escrever e a realizar tarefas domésticas, como costura. Sua escola é uma referência importante de escola livre do machismo, uma escola que ofereceu oportunidades que não eram permitidas às mulheres da época, e nesse sentido sua ação foi extremamente libertadora.
Outra voz importante nesta história é a da potiguar Nísia Floresta , educadora, escritora e poetisa brasileira, também pioneira na educação feminista, abolicionista e republicana, que mais tarde encontra diálogo no movimento da Escola Nova com outra importante pensadora da educação, a poetisa carioca Cecília Meirelles .
Podemos falar da importância de Lauro de Oliveira Lima, precursor das Comunidades de Aprendizagem , de Mário de Andrade, idealizador dos Parques Infantis , de Anísio Teixeira e a Escola Parque .
Paulo Freire segue aparecendo como a principal referência pedagógica brasileira, mais citada no Brasil e um dos pensadores mais mencionados em obras por todo o mundo. É necessário destacar sua importância, assim como toda dedicação de sua obra à busca da promoção de relações livres entre as pessoas, relações de não exploração, mas de emancipação, amadurecimento, respeito, amorosidade, afeto e visando a autonomia, em uma busca constante pelo alto grau de liberdade coletiva.
Vale destacar experiências mais atuais, como o trabalho do diretor e educador Braz Rodrigues Nogueira na EMEF Campos Salles , assim como o trabalho da diretora e educadora Dona Êda Luiz, no CIEJA Campo Limpo , e da diretora e educadora Ana Elisa Siqueira, na EMEF Desembargador Amorim Lima , as três em São Paulo (SP). Destacam-se como experiências de educação pública em territórios periféricos, de êxito na promoção do grau de integridade, inclusão, dignidade e consequente liberdade, para indivíduos e comunidades.
O Projeto Âncora, que existiu em Cotia (SP), por sete anos, foi uma profunda experiência de escola livre e pública dentro de uma comunidade brasileira. A experiência foi registrada em documentários, como na série Destino: Educação – Escolas Inovadoras
Outras experiências bastante interessantes e distintas da escola convencional são a Escola Comunitária Luiza Mahin (BA), a Escola Rural Dendê da Serra (BA) e a Escola Pluricultural Odé Kayodê (GO). Elas trazem forte os elementos das artes, da cultura, com espírito comunitário de muita mobilização e resistência. São escolas reconhecidas como transformadoras, pela rede internacional da Ashoka.
A experiência pedagógica libertária de Lev Tolstói, na Iasnaia Poliana , é uma referência histórica bastante forte e mencionada em todo o mundo da educação alternativa e de resistência a métodos opressores.
O russo Anton Makarenko também apresenta uma experiência de autogestão muito importante, com menores abandonados, de extrema disciplina e trabalho em grupo autogestionado.
A experiência do polonês Janusz Korczak na gestão de dois orfanatos, assim como toda a sua obra, tornaram-se também um clássico na pedagogia livre. Destaca-se o triste destino das crianças com as quais ele trabalhou que seguiram com suas assembleias e projetos, até o fim, nos campos de concentração nazistas.
Dentre as experiências de escolas livres que precisamos destacar ao longo da história está a da escola de Summerhill, na Inglaterra. Já bem consolidada, corresponde a uma escola em que os estudantes decidem tudo, em modelo de regime de internato, distantes das famílias por opção pedagógica. A escola ficou mais conhecida após a publicação em 1960 do livro Liberdade sem medo, de Alexander Sutherland Neil, um marco na pedagogia.
A Escola da Ponte, em Portugal é uma das experiências escolares mais comentadas. Tornou-se mais conhecida pela obra do escritor brasileiro Rubem Alves, A escola que sempre sonhei sem imaginar que pudesse existir, sobre como uma escola livre que inspirou também diversas outras escolas a ousar pensar fora da caixa.
Diversos movimentos e organizações no Brasil e no mundo contribuíram e contribuem para pensarmos as escolas livres.
No Brasil, o movimento da Escola Nova foi bastante reconhecido pela sua importância em se pensar uma outra possibilidade de escola no país. Bastante influenciado pelo pensamento do estadunidense John Dewey, assim como por outras referências, como o espanhol Francisco Ferrer Guardia, encontrou no Brasil lideranças importantes, como Fernando de Azevedo, Anísio Teixeira, Lourenço Filho e Cecília Meireles, signatários do Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova, de 1932.
A experiência dos Ginásios Vocacionais (1961-1969) e das escolas experimentais (1959-1964) também são destacadas como projetos capazes de arejar as práticas das escolas convencionais.
Mais recentemente o movimento das escolas democráticas em rede, Rede Nacional de Educação Democrática , assim como as Conferências Nacionais de Alternativas para uma Nova Educação, CONANE , são fóruns que passaram a reunir experiências escolares distintas do convencional naquilo que condiz com as suas propostas de organização dos tempos, espaços, pessoas, currículo, mais livres e mais democráticas.
O terceiro setor acabou promovendo iniciativas interessantes também, que passaram a olhar e colocar luz nestas experiências, pelas novas possibilidades que apresentam para inspiração de outras mais, a exemplo da rede de Escolas Transformadoras , uma iniciativa global da Ashoka.